20/11/2021 12:50 - EM
Futebol
Marcão destaca importância da luta antirracista no futebol, exalta seus ídolos e vira inspiração
Um dos dois técnicos negros na Série A do Brasileiro, ele enalteceu movimento “Time de Todos”, do Fluminense


“Amo minha raça, luto pela cor. O que quer que eu faça é por nós, por amor”. Os versos fortes da música dos Racionais MC's traduzem o espírito de uma raça que a mordaça não calou. E que inspira tantos negros como Marcão a buscarem igualdade e respeito. Guiado por uma batalha incansável, neste 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, o comandante do Fluminense, um dos dois negros entre 20 técnicos na Série A do Campeonato Brasileiro, ovaciona seus ídolos e agradece às oportunidades que o Time de Todos lhe proporcionou.

Para o treinador, descolar o futebol da sociedade é fechar os olhos para uma realidade dura. Isso, na opinião de Marcão, ajuda a explicar a pouca presença de treinadores negros na elite do esporte brasileiro. Hoje, somente 10% dos técnicos do Brasileirão são negros.

“Não era para ser assim. Hoje na Série A estamos eu e Jair (Ventura, técnico do Juventude). Mas a gente sabe que há muitos outros muito capacitados que poderiam estar sentados nestas mesmas cadeiras que nós. Mas a gente sempre fala que é um reflexo da nossa sociedade. No país do futebol, onde a maior parte é negra, a gente ainda tem que a todo momento reforçar e viver isso. No futebol, por ser uma paixão, o esporte mais praticado no país, acaba refletindo o que acontece na sociedade. Mas a gente continua lutando. Para mim eu acho que fica mais fácil, pois estamos falando de Fluminense, um clube onde fui praticamente criado, moldado. Desde a época que cheguei como jogador fui muito bem recebido e hoje como treinador eu sento em uma cadeira muito importante, de um clube gigantesco. E acabo sendo exemplo em todas as lutas, em todos os temas. E hoje, falando de racismo, o Fluminense Football Club mais uma vez dá o exemplo e novamente sai na frente”, afirmou.



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Marcão percorreu um longo caminho para chegar onde chegou. Agora, como treinador, sonha destruir o estigma de “técnico bom de grupo” e provar que é, também, estudioso e capacitado para exercer a função.

“A gente acaba falando sobre tudo o que acontece, tudo que a gente vive, e acaba vendo exemplo em outros países. Vimos na última semana o que fez Lewis Hamilton em Interlagos, tudo o que ele representou. É lógico que a gente clama por igualdade, por excelência nos estudos. Temos que estar sempre melhorando, se capacitando, para que no momento que a oportunidade surgir isso se iguale. A partir do momento em que a gente está aqui nessa cadeira acaba se tornando normal. Mas estou aqui. Só que até chegar aqui, até a oportunidade aparecer, a gente sabe que ainda há uma barreira. E para chegar aqui não podem nos limitar apenas a força física como jogador e, como treinador, não podem nos limitar a “gestor de grupo”. A gente tem que somar tudo isso. Tem, sim, que ser gestor, mas também tem que ter conhecimento, estudar. Hoje o futebol brasileiro, no nível que está, em uma competição como o Brasileiro, que tem grandes treinadores, tem que estar capacitado. Tive embates com grandes treinadores e enfrentei com igualdade. Se você não for inteligente você não consegue sentar numa cadeira dessa. Nós somos, sim, estudiosos. A gente estuda o futebol e vive o futebol. A gente faz o futebol da maneira que a gente entende e aprendeu com outros grandes treinadores. E vamos sempre melhorando, aprimorando e buscando a excelência, algo que eu faço a todo momento. Porque representamos um grande clube”, disse.



A luta de Marcão e dos negros no futebol brasileiro tem ganhado força nos últimos anos, com ações cada vez mais concretas.  Este movimento, aliás, inspira o treinador a seguir firme na batalha e com esperança de, um dia, ver um cenário de real igualdade na sociedade.

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“Temos visto alguns movimentos. Há algum tempo se alguma pessoa viesse me ferir, as outras pessoas ficariam olhando para mim para saber a minha reação, ao invés de repreender a pessoa racista. E hoje o movimento antirracista tem crescido e a gente tem acompanhado. Mas tem crescido porque os nossos dirigentes, as pessoas que comandam os clubes, têm entendido o movimento e ajudado. Respeito muito o meu clube por isso. É um clube que está à frente, defendendo essa e outras causas importantes. E isso também vira exemplo para outros clubes. Em 2019 fizemos uma ação em uma partida contra o Bahia, quando o técnico deles era o Roger Machado, que esteve aqui conosco. E vejo outros clubes também se movimentando neste sentido. Esse é o caminho que deve ser seguido”, pediu.

E se hoje Marcão é voz importante nesta luta antirracista é porque, no passado teve e no presente tem em quem se inspirar. Seus ídolos refletem sua personalidade e sua garra em persistir por um mundo melhor e mais justo. Quando novo, recém-chegado ao Fluminense, compartilhou a idolatria de toda torcida tricolor por Assis, de quem guarda grandes recordações e o sentimento de privilégio por ter conhecido. E agora é o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton quem o estimula a seguir em frente.



“Eu tenho várias fotos com o Assis, um cara que desde a época que eu cheguei no Fluminense, ele sempre nos deu muita alegria. É um cara que me abraçou. Em um dos meus primeiros jogos no Maracanã ele apareceu no vestiário e eu me impactei, ele estava ali. Ele me ajudou muito. E eu fazia questão de tocar nele. É um cara que sorria bastante, era uma referência, um ídolo de todos nós. Um cara excepcional, acima da média. Tem uma lembrança muito presente na minha vida. Onde ele chegava ele transmitia essa alegria, essa leveza. E eu tive a felicidade de viver momentos importantíssimos da minha vida ao lado dele. E hoje a gente tem uma referência importante, que é o Lewis Hamilton. Sou um apaixonado por Fórmula 1, acompanho sempre. E hoje temos o privilégio de acompanhar esse cara que é um ídolo, que se posiciona, que luta as nossas lutas, engajado em causas importantes e se torna referência para todos nós. Ele está querendo montar uma classe de excelência e estudo para os negros. E isso para a gente é brilhante, um pensamento incrível. E ele é referência em tudo o que ele faz. Sabemos que não é fácil, e ele está enorme”, contou.



Entre tantos percalços, desistir nunca foi uma opção. Pelo contrário. Em um futebol cada vez mais precoce, é difícil imaginar um atleta iniciar sua carreira com quase 19 anos de idade. Pois foi por correr atrás dos seus sonhos e agarrar com unhas e dentes as oportunidades que a vida lhe ofereceu que Marcão hoje se considera um cara realizado.

“Eu jamais pensei em desistir, de forma alguma. Pelo contrário. Minhas oportunidades foram tardias. Eu comecei a jogar com quase 19 anos, e se fosse nos dias atuais seria praticamente impossível. Na época eu estava fazendo um curso no Senai, em Paciência, e já ia começar a trabalhar. E nunca reclamei. Sempre trabalhei e foquei em busca de uma oportunidade, que veio tarde, mas no momento que deveria ser. E eu agarrei da maneira que pude e construí minha carreira da melhor maneira que eu pude, sempre respeitando todo mundo. E no momento que encerrei a carreira como atleta tive a oportunidade de estar à beira do campo, como treinador. Fico feliz pelas chances. Primeiro em 2019, quando assumimos o time em um momento complicado, no lugar onde passaram grandes treinadores. Da nossa maneira conseguimos, junto aos nossos guerreiros, permanecer na Série A. Em 2020 foi uma situação diferente e também muito gratificante, conseguimos levar o time à Libertadores. E agora da mesma maneira, sempre trabalhando muito. Tenho sempre que agradecer às oportunidades e entender o momento. Sigo trabalhando demais para buscar a excelência e para alcançar resultados e conquistas para esse grande clube”.



Hoje, o técnico do Fluminense sabe que mexe com o sentimento de milhões de torcedores. Mas influencia também tantos que o veem como um exemplo a ser seguido, uma inspiração.

“Eu tive a oportunidade de há pouco tempo estar com muitos amigos que começaram junto comigo onde fomos criados, lá em Santíssimo. E eles me falaram com muita emoção, de pessoas de comunidades, que sabemos da luta diária, de buscar oportunidades. E eles param na frente da televisão, veem matérias nossas e falam “olha lá o tio Marcão. Ele começou comigo e hoje tem a chance de mandar uma mensagem importante para milhões de pessoas e milhões de crianças”. Isso só me dá força para continuar lutando, trabalhando e estudando para alcançar o melhor. Sei que não é fácil, é uma luta diária. Mas vivo um clube gigantesco, onde a pressão é grande e diária. E só agradeço por isso. O conselho para eles é que não desistam nunca e que quando a oportunidade aparecer que eles estejam preparados”.

Fotos: Lucas Merçon/FFC
Texto: Comunicação/FFC

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